quarta-feira, 8 de outubro de 2008

- Acho que me fazes sentir…
… ligeiramente inebriada.

Noventa segundos. Noventa segundos era o tempo que ia deixar que o cérebro lhe inundasse o corpo com aquela trepidação suave e tépida por debaixo da pele. Noventa segundos. Depois endireitar-se-ia, sorriria não sem um leve e translúcido comprometimento e diria, colando a palma da sua mão à dele:

- Sou demasiado pequena para ti.
Escorregar-te-ia por entre os dedos.

Como os grãos de açúcar que tiveste esperança de virem a tornar-me mais doce.

Mas por enquanto não havia como não se render a cada pulsar de energia compulsiva, a cada reacção, substância química que fluía e se diluía em si, como um todo, como um salteador chegando pela primeira vez a um território incógnito - mapeando cada canto, cada linha do horizonte, cada beco sem saída.

Apesar de as ideias andarem inauditas, inéditas, vagueando pela sua mente, como uma dança

- Sabes que um dia vou sair por aquela porta
e nunca mais voltar, não sabes?,

sabia que ainda não tinha chegado a altura de as dominar, de fazer com elas aquilo que tinha de ser feito. Noventa segundos. Noventa segundos e aí podia escolher, podia escolher se queria continuar a sentir-se assim, naquela entrega total às suas marés, ou se ergueria a barragem.

- Podes dizer-me agora
tudo aquilo que vou ter de esquecer. [...]

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