quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nix

Continuava a nevar. Não se lembrava sequer da última vez que tivera uma trégua, uma pausa para respirar. Já há muito que pouco via das janelas e a espessura da muralha que se começava a formar lá fora em breve faria com que deixasse de sentir os pequenos tremores debaixo dos seus pés, as subtis vibrações do tempo que passava e passava.
O tempo que passava e passava, repetiu ela com um sarcasmo que deixara de lhe ser característico. Podia ainda contabilizar os dias, as semanas, os meses… os anos que se acumulavam no parapeito da janela, onde outrora costumava pousar os braços? Sem ter onde os pousar por mais que continuasse a olhar em volta, sem ter a que mais dar ouvidos agora que o silêncio lhe levara a voz como uma onda, com que mais se desiludir agora que deixarara de caminhar, agarrou subitamente no casaco, no cachecol, no gorro e nas luvas e correu lá para fora.

0 Comments:

Post a Comment