sábado, 10 de maio de 2008

Hoje não te vi passar. Fiquei como de costume à janela, semioculto pelas persianas, pelo barulho das luzes, dos reflexos fugidios, mas foi um daqueles dias em que não passaste. Desde que te vi por acaso naquela ocasião, há já uns anos (dois?, três?), que ganhei este hábito, movido pela curiosidade, movido pela saudade. Comecei a reparar que passavas pela minha rua frequentemente, frequentemente à mesma hora, e algo que não tem palavras fixou-me o corpo ao parapeito da janela. Tentei descobrir as tuas rotinas, quais os dias exactos em que não te via, mas rapidamente me apercebi que não havia uma lógica para a tua vida, ou que, se a havia, tentavas fugir dela. Essa falta de arrumação, essa entropia, abria caminho para a minha imaginação. Que outras estradas tomarias nos dias em que não passavas em frente a minha casa? Que outros rumos, que outras metas, te guiavam cegamente, inconscientemente, alheia a tudo o que deixaste para trás? Passou já tanto tempo e podias perguntar-me porque nunca te abordei se sempre te via, mas não. Não o poderia fazer. E se descobrisse que não te tinhas tornado o que eu queria para ti?
(15-02-08)

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