quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Não vejo diferença nenhuma entre mim e as minhas tias, parece que se paga caro a arrogância…

Sempre desdenhei aqueles momentos em que uma delas se calava atrás de um homem qualquer que vociferava iracundo à mesa de uma reunião agradável de família alguma barbaridade que nos estraga a noite e deixava a todos com a cara à banda ou com sorriso de caso. Sempre detestei assistir a essas cenas

E aqui estou eu na mesma situação…pedindo desculpas com os olhos aos meus interlocutores…ao meu irmão, que bem disposto se ri do outro lado…senti alguma pena de mim, por estar ali, com aquele ar pingão e com um sorriso entre o amarelo e o puído…

De não poder controlar a situação de não poder pedir-lhe que por mim ignorasse por uma vez…tantas idiotices dizemos em catadupa. Esquecer, não levar a peito, aceitar. simplesmente aceitar. Não me considero a pessoa mais tolerante do mundo, mas há coisas que consigo sublimar. Parece que estou a ver o ar triste do João a dizer que foi alvo de xenofobia em Paris e na Áustria. Aqueles olhos lacrimosos e peito de passarinho que tanto me assustavam pela sua fragilidade, que me faziam sentir em casa e à vontade para revelar as minhas fraquezas e medos. Aquela tristeza por sentir que não lhe compreendiam a sensibilidade, como o magoavam. Nunca esqueci. E agora, a raiva, a cólera, a quase loucura e olhar sanguinário…conheço de vista estes sentimentos. Já os cumprimentei, sem dúvida, mas deram-me tamanha azia que depressa lhes larguei a mão, e só esporadicamente lhes dirijo um aceno de cabeça. Mais uma vez com frio. Os anos passam, mas sempre o mesmo frio quando as coisas aquecem. O queixo contraído, a pele baça e o frio, raio de frio.

1 Comment:

  1. Sónia said...
    Tornamo-nos sempre aquilo que criticamos... but how exactly did we get here?

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