quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Não me estás a mentir?
Aquela pergunta inquiria tanto mais. Nela ouvia o arquejar da pessoa a vir à tona – o arquejar da pessoa que acorda de um pesadelo e se agarra à cabeceira da cama sem saber onde está. Esse segredo que eu conhecia trouxe-me uma angústia que me paralisou nos instantes em que te via cruzar os braços e os teus olhos coreografam uma valsa no vazio atrás de mim, quase à espera de descobrir uma nova pista por cima dos meus ombros. Não havia nada para trás de mim.
Não.
Não, não te estou a esconder nada.
Comprimiste os lábios e assentiste. Mas tudo aquilo também fazia parte da coreografia, já havia sido ensaiado milhares de vezes e persistia no código comum a todas as línguas extintas despertas dos escombros. Era aquilo que se esperava de ti.
Acabou?
Espero que o pano caia, que sorrias de alívio por poderes encerrar o assunto com o silêncio de uma pedra tumular, mas vejo-te morder o lábio, todo o teu rosto fechar-se quando as lágrimas começam a cair sem ruído e só aí, só aí sei que durante todo este imenso tempo – que durante todo este imenso labirinto de fome – a tua interrogação era genuína.

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