segunda-feira, 23 de junho de 2008

O vento do oriente é diferente. É outra matéria este vento. Não arrasta consigo melancolias e detritos humanos, antes os congela num tempo de relógio, nas falanges dos dedos que engrossam.
Aqui flutuou entre realidades, entre falsos rios e luz dourada. Aqui viu o único sol que se pode olhar de frente, reflectido em vigas de metal, refulgente e passageiro. Porque no oriente a ilusão é matéria. Foi no oriente que escorregou nas pedras polidas e caiu sobre o coração. Em que viu a mala atropelada por pneus negros e contemplou um céu terroro. Foi aí que a cara se contorceu de assombro. Os sapatos voam. Perdeu os lábios no acidente. O alcatrão escureceu-lhe a pele e a capacidade de chorar. Os sapatos sempre voam. Vassouras indiferentes juntaram-lhe os pedaços. Foi novamente colada, mas agora percorre o oriente a medo, porque afinal os sapatos voam.

2 Comments:

  1. Sónia said...
    Ainda bem que passei por aqui! ******
    Sónia said...
    PS- Os teus textos são avulsos ou fazem parte de um todo que ainda não nos foi revelado? I see connections but you know... I'm a panda and a panda sees bamboo everywhere ;)

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